segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Entrevista Carlos Miele na Veja

Nessa entrevista Carlos Miele questionava as criticas que recebeu de certas editoras de moda brasileiras, mas não mencionava os seus nomes. 
Procurei alguma noticia sobre a divergencia entre Carlos Miele e editoras de moda e encontrei essa entrevista na Veja , em que o estilista fala sobre as críticas de Lilian Pacce, Erika Palomino e Regina Guerreiro.

Essa entrevista foi retirada do site da revista Veja;


http://veja.abril.com.br/vejasp/120901/entrevista.html

"Uma panelinha controla nossa moda"
Maria Rita Alonso
  Rogério Albuquerque

O estilista Carlos Miele, dono da M. Officer: estréia nos desfiles de Londres

Para um certo espanto do mundinho fashion paulistano, o estilista e empresário Carlos Miele, dono da marca M. Officer e uma das figuras mais polêmicas do meio, acaba de fincar o pé na cena inglesa. Enquanto outros estilistas de São Paulo irão participar das semanas de moda em Paris e Nova York, Miele será o único brasileiro a mostrar sua coleção de verão no Museu de História Natural de Londres. Na comissão de frente do desfile estará sua atual namorada, Suyane, uma índia cariri de 18 anos que ele lançou como modelo. Preocupado em apresentar nas passarelas performances com os chamados excluídos, ele assume que faz roupas é para a elite. Apesar dessa contradição, ou talvez por isso mesmo, suas criações chamam a atenção no exterior. Neste ano, elas figuraram em 34 publicações internacionais, sobretudo inglesas. Na entrevista a seguir, o paulistano Miele, 37 anos, diz que foi prejudicado pelo produtor Paulo Borges na última São Paulo Fashion Week, afirma que algumas editoras de moda não têm capacidade para julgar seu trabalho e deixa bem claro que detesta críticas.

Veja São Paulo – Neste ano você vai ser o único representante brasileiro na Semana de Moda de Londres. Será mais um desfile performático?Carlos Miele – Não. Ficaria muito caro fazer algo assim em Londres, como eu faço em São Paulo. Este é meu primeiro desfile fora do país e será num espaço pequeno e gratuito, no Museu de História Natural.
Veja São Paulo – Você tem medo de ser criticado em Londres por seus arroubos artísticos na passarela, como acontece com freqüência por aqui?Carlos Miele – Nenhum medo. Saindo do meio da moda, as pessoas admiram muito o que faço. Até os índios do Amapá conhecem Carlos Miele. O problema são três jornalistas que costumam fazer críticas descabidas ao meu trabalho: Erika Palomino, Lilian Pacce e Regina Guerreiro. Elas lutam por uma reserva de mercado e qualquer um que tente trazer novidades a um mundo colonizado como o da moda paulistana fica malvisto.
Veja São Paulo – Por que as críticas são infundadas?Carlos Miele – Elas não têm capacidade de me entender. Meu trabalho é internacional com raízes brasileiras, e o delas é nacional com raízes internacionais. Para começar, elas não se vestem como brasileiras. Erika Palomino era interessante enquanto foi clubber. Agora, quer vestir-se como européia, pintou o cabelo de loiro, deixou ele lisinho e perdeu muito sua personalidade. Em pleno verão, Regina Guerreiro e Lilian Pacce andam de gola alta, vestidas de preto, encapotadas, sempre fazendo tipo de editora de moda européia.
Veja São Paulo – Recentemente Regina Guerreiro se referiu a você como "pobre menino rico". Isso o incomodou muito?Carlos Miele – Picasso levou trinta anos para pintar como uma criança. Elas me criticam, na verdade, porque eu vou buscar referências em minhas raízes, no candomblé, nos índios, enfim, nos excluídos.
Veja São Paulo – Essas críticas chegam a prejudicar financeiramente seus negócios?Carlos Miele – Não. Tanto é que elas são sempre convidadas para se sentar nos melhores lugares em meus desfiles. Só que elas não têm olhar para o novo. Regina Guerreiro disse que eu era uma piada fashion, criticou-me por fazer muitos brilhos e plumas, que depois subiram nas passarelas do mundo inteiro. Críticos mais inteligentes que ela falaram que Duchamp não fazia arte, que Jorge Amado era medíocre. Não é ela quem vai me dizer o que fazer. Lilian Pacce escreveu que eu deveria vender só camiseta e jeans, porque não faço moda. Agora, meus vestidos estão nas melhores lojas do mundo.
Veja São Paulo – Quanto você vende? O faturamento anual de sua grife é de 120 milhões de reais por ano, como se diz no mercado?Carlos Miele – Vendo muito, mas não divulgo números. Meus vestidos estão em editoriais de moda, ao lado de peças da Chanel e de Yamamoto. Mas Lilian Pacce não entende. Aliás, como editora de moda, ela sempre foi muito fraca. No último desfile, disse que coloquei na passarela uma imagem roubada do universo indígena. Roubada não, comprada. O artesanato é o meio de sustento deles.
Veja São Paulo – O que os jornalistas internacionais que vieram a São Paulo a convite da Fashion Week acharam de seu desfile?Carlos Miele – Um mês antes da Fashion Week, chamei uma assessora do produtor Paulo Borges [organizador do evento] porque estava sabendo que alguns jornalistas só viriam para o Brasil um dia depois de meu desfile. E foi isso que aconteceu. Eles tiraram os estilistas que interessam a eles do primeiro dia, e eu, que não faço parte da panelinha, fui prejudicado.
Veja São Paulo – Você está afirmando que boicotaram sua apresentação?Carlos Miele – Com certeza. Eu não faço parte da panelinha que controla o poder na moda em São Paulo. Mas, mesmo com o Paulo Borges usando toda a força da Fashion Week contra mim, meu desempenho internacional é excelente. Da última vez, tentaram impedir que críticos internacionais viessem a meu desfile. Colin McDowell, do jornal inglês The Sunday Times,e Marie José Eymere, da revista francesa L'Officiel, chegaram um dia depois. Paulo Borges valoriza apenas os designers que interessam a ele.
Veja São Paulo – A quem você está se referindo?Carlos Miele – Não quero citar nomes. O fato é que Paulo Borges quer monopolizar a moda no país. Agora deu para apresentar um evento de jovens designers. Mas perdeu a oportunidade de fazer com que a Fashion Week tenha credibilidade internacional, protegendo sua panelinha. O designer brasileiro que quiser reconhecimento tem de participar das semanas de moda européias ou americanas. Vou investir em minha carreira em Londres por três anos. Meu sonho é vender jeans no mundo todo.
Veja São Paulo – Você é um empresário rico, faz moda para consumidores de bom poder aquisitivo, tem lojas nos grandes shoppings e, apesar disso, sempre que exibe suas criações diz que está homenageando os excluídos. Não é contraditório?Carlos Miele – Gero empregos, pago impostos, e não há nada de errado no que faço. Eu teria de ser miserável para poder pensar nos miseráveis? Como sou da elite, e faço moda para a elite, não posso levar os excluídos para a passarela? Quando critico a elite, critico a mim mesmo.

As críticas que as editoras fazem
e repetem sobre o estilista 



Renato Chaui


"No Brasil, quando uma editora gosta de um desfile é porque 'entendeu'. Se fala mal, é porque 'não entendeu'. É conveniente para Miele se fazer de 'marginal' e dizer que, mesmo com opiniões negativas das mais importantes críticas de moda daqui, faz sucesso no exterior. Não considero descabidas minhas críticas e acho que ele precisa delas para encontrar seu caminho como estilista."
Erika Palomino, Folha de S.Paulo 


Leo Feltran


"Eu acharia ótimo se a moda de Carlos Miele coincidisse com seu discurso e fosse realmente inspirada nos índios ou no candomblé. O problema é que ele usa esses elementos de forma leviana, como puro marketing. Mas ele está progredindo. Sua última coleção foi a menos ruim. E, pelo menos, é coerente em um ponto: segue fazendo moda para a mulher banalmente sexy."
Regina Guerreiro, Caras

Thelma Villas Boas


"O discurso de Carlos Miele sempre foi eficaz fora do meio da moda. Ele é um ótimo estrategista de marketing. Da última vez, apropriou-se da cena indígena para mostrar roupas urbanas, que não faziam nenhuma referência ao tema. O melhor desse desfile, como sempre, foram os tecidos. Tomara que o sucesso internacional o faça esquecer as mágoas."
Lilian Pacce, O Estado de S.Paulo
 

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